Dramas familiares, amor, disputas por justiça, tudo isso ambientado no Pantanal, em Mato Grosso do Sul, promete embalar o horário nobre da televisão com "Terra e Paixão", de Walcyr Carrasco, nesta segunda-feira (8). A trama marca o retorno às telinhas e estreia em novela das 21h da cearense Suyane Moreira.
No novo folhetim, a atriz dá vida à Iraê Guató, uma mulher da etnia guató e especialista em ervas. A personagem integra o núcleo de povos originários da novela, todo composto por elenco de descendência indígena. Os atores Daniel Munduruku, Mapu Huni Kui e Rafaela Cocal formam a família Guató.
A etnia Guató é um povo originário que historicamente ficou conhecido por viver na região do Pantanal, na fronteira entre Mato Grosso do Sul e Bolívia.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, Suyane afirma que a novela foi um presente. "A última novela que fiz foi Novo Mundo, em 2017. Veio a pandemia e muita coisa aconteceu, foi bem difícil pra nós, artistas. Essa novela vai ser bem surpreendente, vai mexer com muita gente. O Walcyr (Carrasco) tem uma sensibilidade muito grande".
Natural de Juazeiro do Norte, a atriz iniciou a carreira artística aos 14 anos como modelo. Das passarelas, chegou à televisão e esteve em Araguaia (2010), As Brasileiras (2012) e Novo Mundo (2017) na emissora. O último trabalho para a TV foi a participação na sexta temporada da série Sessão de Terapia, em 2021.
Inspiração na avó
Até realizar o teste para o papel, no ano passado, Suyane não sabia as características de Iraê e revelou ter sido surpreendida com a mulher fortaleza que é. "O processo de dar vida à Iraê foi fantástico, fiquei muito feliz quando descobri que ela é mãe e, ainda mais, por ser mãe de uma adolescente".
Especialista em plantas medicinais, Iraê vai ter características da avó de Suyane, Juana Moreno que era benzedeira, conforme relata a atriz.
"Minha avó me representa. Ela morreu aos 106 anos, há sete anos, e tenho uma lembrança muito forte dela na minha infância, ela era benzedeira. As pessoas iam na casa dela, tinha todo um ritual com as plantas, da medicina natural, ela tinha essa sabedoria muito grande. Isso aparece muito forte na Iraê, quero trazer gestos, jeito de andar da minha avó".Suyane Moreira
atriz
A atriz ainda revela que levou sugestões de elementos da cultura do Cariri cearense, mais precisamente de Juazeiro do Norte, para compor a personagem, mas não pôde adiantar.
Suyane descreve a personagem como uma mulher muito forte, muito séria, mas ao mesmo tempo muito desconfiada. "É uma mãe muito preocupada e tem certo receio com o povo branco, mas ela é muito amorosa, tem muito amor pela família, pela terra dela", acrescenta.
Mãe e filha
Na trama, Iraê é mãe de Yandara, interpretada por Rafaela Cocal, uma adolescente que quer ser modelo. Suyane, que atuou como modelo desde os 14 anos, conta que vê muito da relação dela com a própria mãe em Iraê e Yandara. Além disso, essa vivência ajudou a construir de forma mais verossímil e sob uma nova perspectiva.
"Eu vejo a minha vida na Yandara, ela sai de uma aldeia pra tentar a vida, eu saí de Juazeiro do Norte pra tentar a carreira de modelo e a minha mãe tinha muito medo de que eu fosse me frustrar, eu vejo um pouco disso", destaca.
"Vou poder trazer essa emoção da minha mãe, do cuidado que ela tinha. Vai ser muito gostoso e interessante reviver isso de outro lado, de uma outra perspectiva".
Honra à descendência
'Terra e Paixão' é a primeira novela das nove com um núcleo indígena, povo que sofreu nos últimos anos com o desmonte das políticas públicas para originários e com a recente crise humanitária dos Yanomami. Para Suyane, isso representa um marco de representatividade e da bandeira que ela levanta há tantos anos.
"A pessoa indígena quer abertura no mercado de trabalho, quer ser aceita como é, eu sofri muito preconceito por conta da fisionomia indígena quando comecei minha carreira como modelo e eu não entendia o motivo pelo qual não poderia ter uma pessoa indígena na passarela. Mas nunca baixei a cabeça, fui em frente pra mostrar para as pessoas da moda que eu sou brasileira e tenho que ser aceita e respeitada".
Mesmo que seja uma ficção, a atriz destaca que há uma importância desse retrato e de falar sobre esse grupo por meio da história de uma família. "É falar que nós estamos aqui, que somos pessoas como qualquer outra, que tem descendência e que honra isso. Temos também que representar esses povos com famílias, mulheres, homens que são atores, médicos, de qualquer profissão".
Toda a construção da cenografia do núcleo conta com consultoria de especialistas do povo Guató para que a casa seja construída o mais fiel possível da realidade, bem como as representações do cotidiano, hábitos, etc.
Diante disso, Suyane diz que espera que isso se perpetue em outras produções, tanto na televisão quanto no cinema. "Essa novela vai trazer muitos segredos, muito amor, muita força e eu acredito que vai prender as pessoas, então espero que se torne cada vez mais natural e orgânico".