SaĂșde

Propaganda

Vírus zika pode voltar a se replicar após recuperação, aponta estudo

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) investigou a reação tardia do vírus da zika e como isso pode levar a novos episódios de sintomas neurológicos da doença, como crises convulsivas.

Por Globo Cariri 24/06/2024 às 13:52:13

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) investigou a reação tardia do vĂ­rus da zika e como isso pode levar a novos episódios de sintomas neurológicos da doença, como crises convulsivas. Os resultados do estudo inédito estão em um artigo cientĂ­fico publicado nesta semana no periódico iScience, do grupo Cell Press.

O estudo foi realizado durante quatro anos com cerca de 200 camundongos que se recuperaram da infecção pelo vĂ­rus zika. A pesquisa foi liderada pelas cientistas Julia Clarke, do Instituto de CiĂȘncias Biomédicas, e Claudia Figueiredo, da Faculdade de FarmĂĄcia, ambas da UFRJ.

Os resultados apontam que em situações de queda na imunidade, como stress, tratamento com medicamentos imunossupressores ou durante infecções por outros vĂ­rus, o zika pode voltar a se replicar no cérebro e em outros locais onde antes não era encontrado, como nos testĂ­culos.

"Alguns vĂ­rus podem "adormecer" em determinados tecidos do corpo e depois "acordar" para se replicar novamente, produzindo novas partĂ­culas infecciosas. Isso pode levar a novos episódios de sintomas, como acontece classicamente com os vĂ­rus simples da herpes e da varicela-zoster.

Segundo Julia Clarke, essa nova replicação estĂĄ associada à produção de espécies secundĂĄrias de RNA viral, que são resistentes à degradação e se acumulam nos tecidos.

"A gente observou que, ao voltar a replicar no cérebro, o vĂ­rus gera substâncias intermediĂĄrias de RNA e a gente vĂȘ um aumento na predisposição desses animais a apresentarem convulsões, que é um dos sintomas da fase aguda", acrescentou.

Em modelos animais, o grupo da UFRJ e outros aplicaram testes de PCR, microscopia confocal, imunohistoquĂ­mica, anĂĄlises comportamentais e mostraram que o vĂ­rus da zika pode permanecer no corpo por longos perĂ­odos, após a fase aguda da infecção. Em humanos, o material genético do vĂ­rus da zika jĂĄ foi encontrado em locais como placenta, sĂȘmen, cérebro, mesmo muitos meses após o desaparecimento dos sintomas.

Ela explica que os resultados mostraram que a amplificação do RNA viral e a geração de material genético resistente à degradação pioram os sintomas neurológicos nos animais, principalmente nos machos. Embora a reativação tardia do vĂ­rus da zika ainda não tenha sido investigada em humanos, os dados sugerem que pacientes expostos ao vĂ­rus, no inĂ­cio da vida, devem ser monitorados a longo prazo e que novos sintomas podem ocorrer. Como próximos passos, Julia Clarke explica que se aprofundarão nas calcificações cerebrais provocadas pelo vĂ­rus.

"O cérebro exposto ao vĂ­rus, tanto de animais quanto de humanos, desenvolve ĂĄreas de lesão caracterĂ­sticas com morte de células e acĂșmulo de cĂĄlcio - as chamadas calcificações. Nosso grupo pretende caracterizar se essas ĂĄreas de calcificações são os locais onde o vĂ­rus permanece adormecido. Além disso, pretendemos testar um medicamento que diminui muito o tamanho dessas ĂĄreas de calcificação para avaliar se consegue prevenir essa reativação do vĂ­rus", explica.

Julia Clarke ressalta que a pesquisa é de extrema importância, pois revela a capacidade do vĂ­rus persistir e reativar, o que pode ter grandes implicações para a saĂșde pĂșblica. O trabalho contou com a colaboração de pesquisadores do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes e do Instituto de BioquĂ­mica Médica Leopoldo de Meis, ambos da UFRJ, e financiamento de cerca de R$ 1 milhão da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

Fonte: AgĂȘncia Brasil

Comunicar erro
ComentĂĄrios