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No mês da mulher, uma juíza do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) está entre as 19 mulheres que receberão o Diploma Bertha Lutz, homenagem concedida pelo Senado a quem se destaca na defesa dos direitos das mulheres. Bruna Rodrigues, de 38 anos, divide a lista com as atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.
A juíza foi indicada para compor a lista de homenageadas pela senadora cearense Augusta Brito (PT). A cerimônia de entrega do Diploma Bertha Lutz está marcada para o dia 27 deste mês, às 10h, em Brasília (DF), para onde Bruna viajará para receber a premiação.
A honraria foi instituída em 2001, e já foram agraciadas mulheres como a ativista Maria da Penha e a médica Zilda Arns, ambas em 2005; a cantora Leci Brandão, em 2010; a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2012; a vereadora Marielle Franco, em 2019; e a jornalista Glória Maria, em 2023.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, Bruna conta que recebeu a notícia durante o carnaval "com muita alegria, entusiasmo e gratidão". "Chorei muito, não acreditava", revela.
Natural de São Paulo, ela já exerce a magistratura no TJCE desde 2016, tendo sido juíza titular das Comarcas de Graça, no Sertão de Sobral; Paracuru e Pacatuba, na Grande Fortaleza; e juíza auxiliar da presidência do Tribunal Regional Eleitoral (TRE/CE).Hoje, Bruna integra o Comitê Multissetorial para Promoção de Políticas Públicas Judiciais de Atenção às Pessoas em Situação de Rua (PopRuaJud).
Vivo o racismo todos os dias, inclusive no exercício da magistratura. É algo visual, é de cor, é a pele. A pessoa pode ser pobre ou rica: ela é negra.
Para a magistrada, então, estar entre as 19 brasileiras que receberão a honraria em 2025 é uma forma de representar a coletividade. "É me colocar como um símbolo de ações, de um planejamento, de uma condução que é feita e voltada no combate à violência de gênero, ao racismo, ao machismo", pontua.
"Ter o meu nome abalizado como uma pessoa que está à frente da luta contra a violência de gênero e estar ao lado de mulheres tão importantes como Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e a própria Maria da Penha, a maior ativista que nós podemos entender contra a violência de gênero da contemporaneidade, é uma honra sem igual", emociona-se.
Bruna lembra que esteve com a senadora Augusta Brito para debater sobre ações de combate à violência política contra as mulheres – caminho que, para ela, tem a educação como ferramenta central.
Minha origem é de família humilde, da periferia de uma das maiores cidades do País, que ia para a escola e não tinha dinheiro para voltar, tomava lanche se os amigos ajudassem a pagar. Mas as adversidades não tiraram de mim a vontade de aprender, de estudar e transformar. A educação mudou minha história, e colher fruto disso em âmbito nacional é algo inacreditável.
"A educação de jovens, de meninas, de meninos, é o futuro, a mola propulsora para o combate à violência de gênero. Ir até as escolas e falar para eles como se deve tratar uma mulher e como não se deve tratar uma mulher. É uma via de mão dupla, é uma atuação conjunta de homens e mulheres", sentencia a juíza.
Para a juíza, ser homenageada, então, é ter reconhecidos não apenas o trabalho, mas os valores, crenças e bandeiras que ergue.
"Eu acredito em uma sociedade que seja, tal como preconizada na Constituição Federal, uma sociedade plural, justa, igualitária, em que a cor da pele ou o gênero não delimita o que a pessoa faz ou fará ou se ela vai viver ou morrer."
O diploma é concedido anualmente a mulheres e homens que tenham contribuído, de forma significativa e independentemente da área de atuação, para a defesa de direitos das mulheres e das questões de gênero no Brasil, como explica a Agência Senado.
O título do prêmio remonta à bióloga e advogada paulista Bertha Maria Julia Lutz, segunda brasileira na história a assumir cargo como servidora pública no País. Ela foi aprovada em um concurso público para pesquisadora e professora do Museu Nacional, em 1919.
Bertha Lutz fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), e foi uma das personalidades mais relevantes do movimento feminista e da educação no Brasil no século XX.
A pesquisadora teve como uma das principais bandeiras a garantia dos direitos políticos das mulheres, e se tornou, após eleição em 1934, suplente de deputado federal, assumindo o mandato efetivamente em 1936. Bertha Lutz morreu em 1976, no Rio de Janeiro.
Fonte: Diário do Nordeste