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Juíza do Ceará receberá mesma homenagem que Fernanda Torres e Fernanda Montenegro no Senado; entenda

Diploma Bertha Lutz é concedido a quem se destaca na defesa de direitos das mulheres e das questões de gênero no Brasil

Por Globo Cariri 11/03/2025 às 10:03:13

Foto: Reprodução

No mês da mulher, uma juíza do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) está entre as 19 mulheres que receberão o Diploma Bertha Lutz, homenagem concedida pelo Senado a quem se destaca na defesa dos direitos das mulheres. Bruna Rodrigues, de 38 anos, divide a lista com as atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.

A juíza foi indicada para compor a lista de homenageadas pela senadora cearense Augusta Brito (PT). A cerimônia de entrega do Diploma Bertha Lutz está marcada para o dia 27 deste mês, às 10h, em Brasília (DF), para onde Bruna viajará para receber a premiação.

A honraria foi instituída em 2001, e já foram agraciadas mulheres como a ativista Maria da Penha e a médica Zilda Arns, ambas em 2005; a cantora Leci Brandão, em 2010; a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2012; a vereadora Marielle Franco, em 2019; e a jornalista Glória Maria, em 2023.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, Bruna conta que recebeu a notícia durante o carnaval "com muita alegria, entusiasmo e gratidão". "Chorei muito, não acreditava", revela.


Natural de São Paulo, ela já exerce a magistratura no TJCE desde 2016, tendo sido juíza titular das Comarcas de Graça, no Sertão de Sobral; Paracuru e Pacatuba, na Grande Fortaleza; e juíza auxiliar da presidência do Tribunal Regional Eleitoral (TRE/CE).Hoje, Bruna integra o Comitê Multissetorial para Promoção de Políticas Públicas Judiciais de Atenção às Pessoas em Situação de Rua (PopRuaJud).

Em 2020, o Diário do Nordeste contou a história de enfrentamento de Bruna ao racismo diário que sofre, mesmo em um cargo considerado de prestígio. "Pensei que, quando me tornasse juíza, não passaria mais por situações racistas, que isso era atrelado às condições sociais e financeiras. Foi uma ilusão."

Vivo o racismo todos os dias, inclusive no exercício da magistratura. É algo visual, é de cor, é a pele. A pessoa pode ser pobre ou rica: ela é negra.
Bruna Rodrigues
Juíza de Direito do TJCE

Para a magistrada, então, estar entre as 19 brasileiras que receberão a honraria em 2025 é uma forma de representar a coletividade. "É me colocar como um símbolo de ações, de um planejamento, de uma condução que é feita e voltada no combate à violência de gênero, ao racismo, ao machismo", pontua.

"Ter o meu nome abalizado como uma pessoa que está à frente da luta contra a violência de gênero e estar ao lado de mulheres tão importantes como Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e a própria Maria da Penha, a maior ativista que nós podemos entender contra a violência de gênero da contemporaneidade, é uma honra sem igual", emociona-se.

Bruna lembra que esteve com a senadora Augusta Brito para debater sobre ações de combate à violência política contra as mulheres – caminho que, para ela, tem a educação como ferramenta central.

Minha origem é de família humilde, da periferia de uma das maiores cidades do País, que ia para a escola e não tinha dinheiro para voltar, tomava lanche se os amigos ajudassem a pagar. Mas as adversidades não tiraram de mim a vontade de aprender, de estudar e transformar. A educação mudou minha história, e colher fruto disso em âmbito nacional é algo inacreditável.

Maria da Penha recebe homenagem das mãos da juíza Bruna Rodrigues
Legenda: Em 2023, Maria da Penha recebeu o título de Mulher Destaque da Justiça Eleitoral, entregue pela juíza Bruna Rodrigues
Foto: Reprodução/Insight Data Science Lab - UFC

"A educação de jovens, de meninas, de meninos, é o futuro, a mola propulsora para o combate à violência de gênero. Ir até as escolas e falar para eles como se deve tratar uma mulher e como não se deve tratar uma mulher. É uma via de mão dupla, é uma atuação conjunta de homens e mulheres", sentencia a juíza.

Para a juíza, ser homenageada, então, é ter reconhecidos não apenas o trabalho, mas os valores, crenças e bandeiras que ergue.

"Eu acredito em uma sociedade que seja, tal como preconizada na Constituição Federal, uma sociedade plural, justa, igualitária, em que a cor da pele ou o gênero não delimita o que a pessoa faz ou fará ou se ela vai viver ou morrer."

O que é o Diploma Bertha Lutz

Bertha Lutz em assembleia da ONU
Legenda: Bertha Lutz em reunião na Organização das Nações Unidas (ONU)
Foto: Reprodução/ONU Photos

O diploma é concedido anualmente a mulheres e homens que tenham contribuído, de forma significativa e independentemente da área de atuação, para a defesa de direitos das mulheres e das questões de gênero no Brasil, como explica a Agência Senado.

O título do prêmio remonta à bióloga e advogada paulista Bertha Maria Julia Lutz, segunda brasileira na história a assumir cargo como servidora pública no País. Ela foi aprovada em um concurso público para pesquisadora e professora do Museu Nacional, em 1919.

Bertha Lutz fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), e foi uma das personalidades mais relevantes do movimento feminista e da educação no Brasil no século XX.

A pesquisadora teve como uma das principais bandeiras a garantia dos direitos políticos das mulheres, e se tornou, após eleição em 1934, suplente de deputado federal, assumindo o mandato efetivamente em 1936. Bertha Lutz morreu em 1976, no Rio de Janeiro.

Fonte: Diário do Nordeste

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